segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Espirro

Tão simples escrever.

Escrever, uma palavra, um verbo, três sílabas... Há coisa nesse mundo mais simples ? Creio que, só o verbo cair.
Mas que seja, eu gosto de verbos, gosto um bom bocado deles. O que não me adapto direito são os adjetivos. Desses não gosto, 'necas de pitiberecas', como diria minha vó. Dela gosto, gosto dela e de seus 'ditados', tão engraçadinhos, daqueles tipo que provocam coceguinhas na barriga ao escutar. Pois minha vó sempre foi assim, tudo nela provocava 'coceguinhas' e ela sempre, pelo menos no pouco tempo que me conheço por gente, provocou a mesma 'coceguinha', que o mundo provocava nela, no próprio mundo.

Apesar de eu gostar um bom bocado dela, o tanto que gosto dos verbos e detesto os adjetivos, em muito pouco nos assemelhamos. Quando eu era bem pequena e tinha cara de joelho, minha mãe me levou para a casa de minha vó. Eu tinha acabado de nascer e seria a primeira vez que ela ia colocar os olhos na neta, mas ao me ver, ver por ela mesma que eu tinha nascido, ela ficou estressada a um ponto de adoecer e não poder mais me ver por um bom tempo. E juro que não quebrei nada, nem nada demais fiz, eu nem era um bebê que chorava, eu só era a primeira filha da única filha que ela teve ... Apartir daí tudo passou a me doer.

Devo confessar que não sei, de verdade, se foi apartir do incidente na casa da minha vó que passei a ser tão 'sensível as dores'. Sei que, quando percebi que era alguém, percebi também, o como sentia dor, e fazia uma tempestade em copo d'água. Eu sempre fui exagerada, daquele tipo que nunca nada está bom, mas que sempre pode piorar, se é que vocês entendem o que estou falando. E essa é a principal diferença entre mim e minha vó, se tudo nela provoca 'coceguinhas' em mim são poucas essas coisas, não que seja alguém infeliz, por Deus, somente não encaro o mundo do mesmo jeito que ela. Talvez minha 'zona de conforto', minha 'falsa felicidade' esteja justamente em minha dor, uma espécie de masoquismo, talvez.

Agora chego ao ponto de que não posso mais encher a boneca de camomila, e está na hora de amarrá-la, dar fim a costura, ao trabalho e deixar para que outros avaliem e recebam 'coceguinhas' ao avaliar. Pois bem, minha dor me trouxe aqui, minha dor me ensinou a escrever e parte de minha dor vem do que escrevo. Não sei quando, mas quando batia no joelho de gente qualquer, alguém me disse 'você escreve bem', desde então me dediquei quase por completo a escrita, tendo em mente a competência que tinha para tal, e como mais competente queria ser no ato de escrever. E nunca ninguém me disse 'você escreve mal', ou 'você ainda não sabe escrever'. Eram só elogios, nessa época ainda gostava dos adjetivos. Até que a uma semana atrás, minha professora de português disse a seguinte frase 'você ainda não escreve bem'. Caramba como aquilo me doeu, me doeu a beça, eu já sou de me doer por nada, imagine com um motivo tão claro ? Matei-me por dentro, e não achei melhor definição que essa, me matei e matei tudo que conhecia, me desconheci.

Apartir daí, passei a não gostar de adjetivos, e por mais que escrever me dooa, ainda gosto dos verbos, pois com a dor trazida pelos verbos vem nela também uma alegria, um certo prazer. Eu gosto disso. Devo confessar, que ao receber a, tão dolorosa, crítica que me rendeu esse blog, minha primeira intenção foi de largar a caneta, meter as cobertas sobre minha cabeça, de lá não sair nunca mais, repetir inúmeras vezes para mim mesma 'nem para isso você prestar' e tentar me afogar em minhas lágrimas grandes e gordas, como um dia fez Alice. Mas o prazer na dor que escrever me causa é muito grande para ser jogado ao leo, por uma simples crítica, de alguém, seja lá quem esse alguém for.

E aqui largo o teclado, aperto o power, me riu por dentro, desejando fazer 'coceguinhas' em quem quer que esteja lendo esse desabafo. Por isso o nomeiei de 'espirro'. Um monte de palavras jogadas na tela, mas não palavras qualqueres, não palavras em vão. Toda palavra tem sua dor e sua alegria, toda palavra tem seu prazer e seu desconforto, cada palavra é única, por isso devem ser tratadas como tais.

Largo o teclado, aperto o power, me riu por dentro e vou meter as cobertas sobre minha cabeça, mas com a promessa de que amanhã voltarei, mesmo que seja para ninguém ler.

4 comentários:

Alice in Wonderland disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marilynsano disse...

aaaaaaaaaaaaaariaR

Viu como tem muita gente que gosta dos seus textos, sinceramente, adorei mesmo, quero ter uma inspiraçao assim pra voltar a escrever.. ta dificill

adoro vc!!!

continue postando que eu vou continuar verdo .. bjuu

Alice in Wonderland disse...

Raira,

dê-me a honra de postar o primeiro comentário no mais novo blog do pedaço!

Não deixe que essa tal crítica referida em seu texto (espero que o pioneiro de muitos outros)ocupe tanto sua mente! Sim, reconheço que a tal não tenha sido agradável e nem de bom senso, mas, de qualquer jeito, não desanime! Esceva, sim, escreva! Qualquer coisa, nem que seja um "espirro de palavras".
Percebo que você leva jeito para a coisa.
Não "se mate por dentro", de maneira alguma. Você escreve bem? Ainda lhe restam dúvidas?! Mas é claro que a resposta é "SIM", bastante bem. Não sei se é digno dizer isso, mas o dom da escrita não é pra qualquer um. Há aqueles que nunca consiguirão fazer bom uso das palavras, e você não se encaixa nessa categoria, acredite! Por isso, mesmo que ninguém leia, como você mesma diz, escreva e você mesma, com o tempo, saberá reconhecer um evidente progresso.
Escever faz bem, em muitos sentidos.

Beijos,
Alice.

Anônimo disse...

gostei, bj